Como comentei na reflexão passada, Jesus respeitou o amadurecimento da fé de cada um de seus traidores: Pedro e Judas. Ambos seguidores do mestre. Mas o que nos ensina Judas e Pedro com suas respectivas atitudes?
Entre tantas coisas que esses discípulos podem nos ensinar, destaco a dúvida de Pedro e a “cara de pau” de Judas. Sendo que enquanto Pedro se perturba com a afirmação de Jesus de que vai ser traído por alguém do grupo, Judas tem a coragem de perguntar ao Mestre se se tratava dele. Veja que absurdo: Judas se oferece para entregar Jesus aos sumos sacerdotes, combina trinta moedas de prata, e tem a coragem de perguntar a Jesus se ele sabe de algo.
Parece que Judas não acreditava nos poderes de Jesus de conhecer a fundo o coração do homem. Mesmo depois de segui-lo por um bom tempo e vê-lo, a todo momento, desmascarar os falsos judeus, os fariseus, seguidores de Javé. Ainda tem a coragem de por esse dom de Jesus a prova, se perguntando: Será que ele sabe da minha trama com os sumos sacerdotes?
Judas aproveitou-se da situação e da fragilidade de Jesus, quando acompanha os soldados e vai até o Monte das Oliveiras encontrar-se com o mestre, depois de um dia árduo trabalho. Judas não entendeu o lava-pés e pouco considerou a mensagem de Jesus como Caminho, Verdade, e Vida. Em outras palavras podemos afirmar também que o discípulo traidor, quis aproveitar-se apenas dos bônus que conseguia diante do povo por estar mais perto de Jesus, mas não quis enfrentar o ônus da missão.
Aceitação do bônus e do ônus da missão de Jesus, de ser seu seguidor, não é pra qualquer um. Somente para aqueles que tem a coragem de ser e viver como Jesus foi e viveu. É na partilha dos bônus e dos ônus que se revelam os verdadeiros seguidores de Jesus. Pedro, em um primeiro momento foge da missão quando renega a Jesus no momento difícil em que o mestre passava. Mas depois retoma e acaba por dar a sua vida pela missão do Mestre. Enquanto que o discípulo traidor não consegue assumir sequer o ônus das próprias falhas, da própria traição.
Em nossa vida cristã cotidiana encontramos muitas pessoas que só querem aproveitar-se daquilo que Jesus traz de bom, desde que esse bom, não coloque limitações ou exigências a serem observadas na vida. É o Jesus que só existe para as causas impossíveis. Pois nos momentos fáceis sua mensagem é até esquecida.
Que possamos aceitar ônus e bônus da missão de Jesus. Que a salvação, como bônus, não nos impeça de dar sentido ao ônus da missão de evangelizar, revelada pelo sofrimento. Pois em plena pandemia, temos a tentação de pensar que Jesus nos abandonou. Mas não! A pandemia é uma razão a mais para confiarmos em Deus, na certeza de que ele jamais nos abandona. Garantindo a salvação e um local especial em outra dimensão após a morte e ressurreição.
E que Deus nos livre da “cara de pau” de Judas!